O investimento em criptomoedas é uma grande oportunidade, mas antes de dar os primeiros passos, é importante entender melhor a natureza desses ativos. Um bom ponto de partida é a relação entre uma criptomoeda e uma moeda fiduciária. Esse conceito econômico pode ajudar você a dominar como as criptos funcionam.

O que é uma moeda fiduciária?

Moeda fiduciária é aquela que não possui valor intrínseco. Ele também não tem lastro, ou seja, não tem garantia. Seu valor deriva de três fatores: autoridade, utilização e confiança. 

Como surgiu a moeda fiduciária?

A origem da moeda fiduciária não é totalmente certa, mas há indícios de que tenha surgido na China, entre os séculos X e XIII. A dinastia Song teria sido o primeiro governo a promover a emissão de papel moeda.

Enquanto isso, no ocidente, a moeda fiduciária foi um conceito idealizado apenas cerca de quatro séculos depois. O empresário europeu Johan Palmstruch idealizou o papel moeda em 1661. No entanto, a princípio, as iniciativas para implementar essa novidade no continente não funcionaram.

O conceito de moeda fiduciária foi concretizado definitivamente no século XX, com o fim do padrão ouro. A implementação começou nos EUA e Canadá e, depois, estendeu-se para os demais países do globo.  

Como determinar o valor das moedas fiduciárias?

O valor das moedas fiduciárias não pode ser determinado pelo valor do material do qual elas são feitas. Por exemplo, uma moeda de ouro teria seu valor determinado pelo valor do ouro contido na moeda. No entanto, esse não é o caso das moedas fiduciárias.

Elas também não podem ter seu valor determinado pelo valor de um bem ao qual estejam vinculadas. Por exemplo, uma ação é apenas um pedaço de papel (atualmente, nem isso: é apenas uma informação), mas tem seu valor determinado pelo valor da empresa à qual está vinculada.

Então, o que determina o valor da moeda fiduciária são três fatores subjetivos: autoridade, utilização e confiança.

Autoridade

A autoridade do emissor é a base do valor de uma moeda fiduciária. A moeda fiduciária só tem valor quando seu emissor é reconhecido como uma instituição com autoridade para desempenhar essa função. 

É por esse motivo que notas falsas não têm valor: porque o emissor não tem autoridade. De maneira geral, apenas o Banco Central de cada país tem autoridade para atuar como emissor de moeda fiduciária.

Utilização

A autoridade determina se uma moeda tem valor ou não, mas o que estabelece o “nível” desse valor é sua utilização. Vamos tomar como exemplo o dólar e o real. Ambas são moedas fiduciárias emitidas por instituições com autoridade. No entanto, o dólar vale mais, porque é mais utilizado. 

Isso significa que as relações de oferta e demanda pela moeda são mais favoráveis para o dólar do que para o real. Quanto maior a demanda (ou menor a oferta) por uma moeda fiduciária, maior será o seu valor na comparação com outros ativos, inclusive outras moedas.

Confiança

Além da autoridade, que determina se a moeda fiduciária tem valor, e da utilização, que estabelece o “nível” do valor, um terceiro fator entra em jogo. É a confiança, responsável pela manutenção do valor ao longo do tempo.

A confiança está associada com o cenário macroeconômico e político. Uma economia em crescimento e um governo estável elevam o sentimento de confiança em relação à moeda. Como resultado, ela mantém seu valor, pois as relações de oferta e demanda permanecem favoráveis.

Por outro lado, uma economia estagnada ou recessiva e um governo volátil prejudicam o sentimento de confiança. Então, a demanda pela moeda cai e seu valor, também.

Exemplos de moedas fiduciárias

Quando falamos em moeda fiduciária, o primeiro exemplo que vem à mente é o papel moeda. No entanto, existem muitos outros tipos de moeda fiduciária que usamos no dia a dia.

Cédulas de dinheiro

As cédulas de dinheiro são o chamado “papel moeda”. Elas não são feitas de papel comum. No entanto, suas características distintivas não têm a ver com valor, mas com segurança. 

O uso de papel especial e técnicas específicas de impressão visa dificultar falsificações. O papel moeda em si, entretanto, não tem o valor que ele representa. Uma nota de R$ 10,00 que você tem na sua carteira não vale, intrinsecamente, R$ 10,00.

Moedas

As moedas causam bastante confusão, pois são feitas de metal. Por isso, algumas pessoas acreditam que elas têm valor intrínseco e, portanto, não podem ser consideradas moeda fiduciária.

De fato, elas têm valor intrínseco – na realidade, tudo tem algum valor próprio. No entanto, ele não corresponde ao valor monetário que essas moedas representam. 

Um bom exemplo é a moeda de R$ 0,05. Existem dois tipos em circulação: as de aço inox e as de aço banhado a cobre.

Um quilo de moedas de aço inox corresponde a 306 moedas. O valor intrínseco seria de apenas R$ 2,00 pelo aço inox, enquanto o valor monetário que elas representam seria de R$ 15,30.

Cheques

Os cheques são apenas papel comum. Além disso, quando você passa um cheque, não há garantia nenhuma; ele não está vinculado a nenhum bem. Aliás, um dos maiores riscos de trabalhar com essa forma de “dinheiro” é o risco de receber um cheque sem fundos e acabar de mãos vazias.

Notas promissórias

Da mesma forma que os cheques, notas promissórias também não têm valor intrínseco nem lastro. Elas têm valor jurídico, o que significa que elas são um documento válido para representar um crédito (e uma dívida). Porém, você não pode simplesmente levar uma nota promissória a um supermercado e usá-la para pagar sua compra.

Títulos de crédito

Como as notas promissórias, qualquer título de crédito pode ser uma moeda fiduciária. No entanto, vale a pena notar que alguns títulos incluem uma garantia – um bem que pode ser tomado pelo credor, caso o devedor não pague. No caso desses títulos, existe um lastro e, portanto, seria tecnicamente inadequado considerá-los moeda fiduciária.

Saldo bancário

O seu saldo bancário é, possivelmente, o melhor exemplo de moeda fiduciária que existe. Ele é apenas uma informação. Não existe, na realidade, uma caixinha no seu banco com seu nome, e o valor do saldo lá dentro. O único motivo pelo qual você acredita que esse dinheiro existe e está disponível é porque o banco de sua confiança diz isso.

Moeda fiduciária e moeda lastreada, quais as diferenças?

A moeda fiduciária é aquela que não tem valor intrínseco nem lastro. Por sua vez, a moeda lastreada é aquela que tem um lastro, uma garantia. Ela não precisa ter valor intrínseco por si mesma; no entanto, ela precisa estar vinculada a um bem que tenha.

Vamos entender melhor com um exemplo. Considere o caso de um país que usa o mesmo sistema de cédulas de papel e moedas de metais comuns que temos hoje no Brasil. No entanto, o Banco Central desse país só pode emitir os valores correspondentes à sua reserva de ouro e prata. 

Isso significa que cada cédula ou moeda, mesmo que não tivesse valor em si mesma (afinal, é apenas papel ou aço), teria seu valor garantido pela reserva de ouro e prata. Esse é o lastro da moeda.

Por um lado, a moeda lastreada conta com mais confiança, pois existe uma garantia de valor. Por outro, ela tem uma limitação – a reserva dos bens que são usados como lastro – e isso pode afetar as relações de oferta e demanda.

Quais as vantagens da moeda fiduciária?

A vantagem da moeda fiduciária é que, por não ter valor intrínseco, sua emissão é relativamente acessível. E, como não é lastreada, não existem limitações para a emissão. 

Assim, o governo, por meio da instituição que tem autoridade para essa atividade, conta com uma grande flexibilidade para emitir mais (ou menos) moeda. Essa flexibilidade abre portas para desenvolver políticas monetárias que podem incentivar ou controlar a inflação. 

Em resumo, a moeda fiduciária pode ser uma ferramenta mais eficaz do que as moedas lastreadas para que o governo coloque em prática suas políticas econômicas.

Quais os problemas da moeda fiduciária?

É interessante notar que os problemas da moeda fiduciária partem, essencialmente, dos mesmos fatores que constituem suas vantagens. 

A flexibilidade para emitir moeda livremente pode levar a cenários econômicos negativos. A emissão em excesso provoca desvalorização e pode levar à inflação de preços. A emissão insuficiente pode forçar a valorização, prejudicando atividades como a exportação.

 

Além disso, todos que usam a moeda fiduciária estão sujeitos a um grau de incerteza superior ao da moeda lastreada. Você tem R$ 10 mil hoje no saldo de sua conta bancária. Amanhã, esses mesmos R$ 10 mil podem ter menor poder de compra ou, até mesmo, ter desaparecido da conta.  

Moeda Fiduciária e criptomoedas têm relação?

As explicações sobre moeda fiduciária que você viu até esse ponto podem apontar para algumas relações com as criptomoedas. Afinal, elas também não têm valor intrínseco ou lastro. Além disso, seu valor deriva da utilização e da confiança.

No entanto, não podemos dizer que criptomoedas são moeda fiduciária, pois um fator essencial não está presente: autoridade.

Não existe uma instituição que detenha toda a autoridade para emitir criptomoeda. O melhor exemplo disso é que qualquer pessoa pode, se tiver os recursos para isso, minerar certas criptos. Ao fazer isso, ela está, de certa forma, “emitindo” tokens

Vale a pena reforçar que as redes de blockchain são descentralizadas, assim como as atividades desenvolvidas nessas redes, e essa é uma de suas características fundamentais.

Dessa maneira, o surgimento das criptomoedas criou uma categoria totalmente nova, para além da moeda lastreada e da moeda fiduciária.

Conclusão

Entender o que é e como funciona a moeda fiduciária – que é o padrão mais comumente adotado hoje – ajuda a destacar os diferenciais da criptomoeda. 

A ausência de autoridade, isto é, de centralização do poder de emissão, coloca os usuários do sistema como protagonistas. Eles estão envolvidos diretamente na emissão de tokens e, portanto, no controle do suprimento da criptomoeda.

É claro que essa dinâmica não está presente em todas as redes de blockchain. Existem redes em que não ocorre mineração ou em que o suprimento de cripto é fixo. Esses são modelos baseados em visões distintas sobre como tornar a rede mais eficiente.

De toda maneira, a ausência de uma instituição monopolizadora de decisões monetárias torna o sistema mais transparente. Por isso, as criptomoedas podem receber mais confiança do que as moedas fiduciárias.

Quer saber mais sobre como as criptomoedas funcionam e as vantagens que a descentralização financeira oferece? Aproveite para ler nosso artigo sobre 9 criptos que possibilitam DeFi

Posts Relacionados

[E-BOOK] Tudo sobre NFT

Conteúdo: 1. Introdução 2. O que são NFTs 3. Como surgiram? 4. Como criar um NFT? 5. Como comprar um...

Assine nossa newsletter e receba os melhores conteúdos sobre cripto semanalmente!

E-mail cadastrado com sucesso!

Erro ao cadastrar e-mail, tente mais tarde.